sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ORAVI vai à Venezuela

Atualmente, dois membros da ONG ORQUESTRANDO A VIDA (ORAVI), contrapartida social do CENTRO CULTURA MUSICAL DE CAMPOS (CCMC), se encontram na Venezuela. O objetivo é, em ambos os casos, o auto-aprimoramento e a aquisição de conhecimento. O diretor geral da instituição, Jony William Villela, partiu na última terça-feira para Caracas, onde participa de reuniões do Sistema Nacional de Orquestas Juveniles e Infantiles de Venezuela (Fesnojiv) e assiste à “Missa em Si menor”, de Johann Sebastian Bach. A peça regida pelo maestro alemão Helmuth Rilling, considerado uma das maiores autoridades quando o assunto é o organista e compositor conterrâneo. Jony retorna ao Brasil no dia 25.

Já o oboísta Dereckeson Gomes, de apenas 15 anos, deixou o Brasil no último dia 14 e regressa no próximo domingo. Também na capital venezulana, participa de “Curso de Preparação de Monitores”, oferecido pela Corporação Andina de Fomento (CAF), através de professores de oboé das orquestras do Fesnojiv. Lá, aprimora não apenas sua técnica, mas se aprofunda na filosofia de ensino do celebrado El Sistema.

DEFENDO O LEGADO

Ganhador de um prêmio Grammy, em 2001, Rilling rege amanhã, sábado (20), às 17h, a escola Cantorum, o Coro Sinfônico Juvenil Metropolitano e a Cantoría Alberto Grau, na sala Simón Bolívar, do Centro de Ação Social pela Música. Participam da “Missa em Si menor” os solistas Kismara Pessatti (alto), Timothy Fallon (tenor), Istvan Kovacs (baixo) e a venezuelana Mariana Ortíz

Nascido em Stugartt, em 1933, Rilling consagrou sua carreira à obra de Bach, divulgando a obra do compositor alemão e mantendo-a em cena. Como Bach, a quem o maestro escutava desde criança, quando esteve internado em um instituto religioso para jovens de baixa renda, Rilling também foi músico de igreja, de modo que sua compreensão da música de Bach provem, também, dessa familiaridade com a fé cristã. De fato, um de suas primeiras experiências com o trabalho de seu conterrâneo se deu através dos serviços religiosos dominicais, que terminaram congregando mais de 400 pessoas, não necessariamente profissionais do canto, para interpretar cantatas de Bach.

Não é capricho a aplicação de Rilling em manter o legado de Bach. Segundo suas próprias palavras, Bach é muito contemporâneo. “Se alguém tinha idéia do real significado da palavra congregação, esse alguém era Bach. São pensamentos muito aplicáveis ao contexto do século XXI. Parece que Bach entendeu certos problemas humanos básicos, e não só os entendeu, como quis oferecer soluções”, pondera Rilling.

TALENTO RECONHECIDO

Dereckson foi apontado como destaque pela primeira de duas missões venezuelanas que estiveram em Campos em outubro último, a fim de oferecer cursos de aperfeiçoamento para os músicos da ORAVI. Composto pelo violoncelista Roberto Zambrano, o violinista Francisco Díaz, o trompetista e maestro Alfredo D’Addona e o oboísta Marco Tarazona, o grupo, que viu no núcleo campista a maior experiência com El Sistema fora da Venezuela, destacou as habilidades do jovem e providenciaram sua ida.

Membro da Orquestra Sinfônica Jovem Professora Mariuccia Iacovino, Dereckson estuda para, enquanto monitor, aplicar em Campos o método venezuelano, reconhecido internacionalmente como a melhor filosofia de ensaio musical. Começou seus estudos com o instrumento em 2006, durante outra missão de professores venezuelanos à cidade. Em 2009, tornou-se monitor do projeto da Academia de Orquestras e Coros Sinfônicos de Campos e primeiro oboísta da Orquestra Sinfônica Jovem.

— Hoje, Dereckson é a grande revelação do núcleo de Campos em seu instrumento e grande destaque da Orquestra Sinfônica Jovem, junto da qual executou solos de oboé em peças apresentadas em grandes palcos, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a Sala Cecília Meireles, e eventos, como os festivais de inverno de Petrópolis e Friburgo. Dereckson Participou, ainda, da turnê internacional da Orquestra Sinfônica Jovem Professora Mariuccia Iacovino na Bolívia — avaliza o diretor executivo da ORAVI, Charles William.

TROCA PROVEITOSA

Essa integração com a estrutura do Fesnojiv e a constante troca com a Venezuela, seus professores e músicos foi justamente o que garantiu ao Brasil, e mais especificamente a Campos dos Goytacazes, a admiração das últimas missões venezuelanas. Na ocasião, o trompetista e maestro Alfredo D’Addona destacou os resultados desse intercâmbio.

— Ao chegar a Campos, conseguir ver o quanto o trabalho cresceu nesses oito anos desde minha última vinda. É, de fato, como se fosse um núcleo venezuelano. Não é só música. O projeto ajuda crianças a vencerem problemas como as drogas, o crime e a prostituição, coisas que, dentro “del Sistema”, se evita. É isso que vimos aqui — destacou D’Addona, que é membro fundador do Fesnojiv, diretor geral do projeto no estado de Lara, na Venezuela, maestro da Orquestra Juvenil de Barquecimeto, capital do estado, e trompetista da Orquestra Sinfônica de Lara.

Parte da segunda missão venezuelana que veio à Campos em outubro, Lourdes Sanchéz, que é diretora do sistema nacional de coros do Fesnojiv e regente do Coro Metropolitano e do Coro Sinfônico Nacional da Venezuela destacou a lógica que, como lá, rege o projeto aqui.

— Se me nutro intelectualmente, se leio, toco, eu cresço enquanto pessoa. Essa é a filosofia do Fesnojiv e de seus núcleos, incluindo o de Campos, que é um programa sério. Há uma estrutura e não tem improvisação. É benefício para toda a comunidade, pois, se ajuda uma criança, ajuda a toda a família. Quando uma criança entra no projeto, toda a família se envolve. Une-se, assiste e apóia. A criança melhora sua auto-estima, sua confiança e se sente mais feliz.

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