domingo, 10 de junho de 2012

Ainda afinado com um sonho

Jornal O Diário - 10 de junho de 2012.
Patrícia Bueno

Entrevista - Jony William Villela Vianna


Maestro Jony William afirma que ONG ganhou novo fôlego com a decisão da prefeitura.
 
O som de violinos no final do corredor, em pleno feriado de Corpus Christi, revela que o trabalho continua intenso na ONG Orquestrando a Vida, do Centro Cultura Musical de Campos. O grupo, que viveu o drama de ter que fechar suas portas definitivamente por questões financeiras, recebeu, enfim, uma boa notícia na última semana: a assinatura do termo de convênio para a criação da orquestra e coro da cidade. “Foi uma surpresa. Uma vitória muito grande”, destaca o maestro Jony William Villela Vianna, diretor da escola de música.
Em meio aos intensos ensaios e preparativos para se adequar ao compromisso assumido com a prefeitura, Jony William conversou com O Diário sobre a decisão da prefeita Rosinha Garotinho e o futuro dos jovens atendidos pela ONG.  São mais de 700 crianças e adolescentes que fazem da música um abrigo, como o próprio maestro conta na conversa a seguir…
O Diário – Como o senhor recebeu a notícia da assinatura do Termo de Convênio criando a Orquestra e Coro de Campos, na última terça-feira, pela Prefeita Rosinha?
John William – Foi uma surpresa muito grande. Soubemos, na quinta passada, que um grupo de Vitória seria contratado para formar a orquestra e o coro e isso foi como uma dinamite explodindo na família Orquestrando a Vida, em familiares e amigos. Já vivíamos um drama, e isso só aumentou a nossa carga  de sofrimento. Sexta e sábado foram alguns dos meus piores dias. Foram difíceis para todo mundo aqui, de muita tristeza. E de repente, no domingo, eu sou surpreendido por uma reunião e o desejo de que tudo fosse diferente, ou seja: que o convênio fosse feito com a Orquestrando a Vida. Para você ter uma ideia, no domingo de manhã eu estava me preparando para ir ao Rio no lançamento do Guia Viva a Música, onde a ONG foi destaque. Então, teve um debate e eu pensei: “meu Deus, não sei nem o que vou falar”. Estava muito perturbado. Aí veio a reunião à tarde. Foi uma surpresa muito grande, foi inesperado… uma surpresa muito boa.
O Diário –  E a família Orquestrando a Vida, como reagiu?
John William – Muitos não acreditaram. Lógico que ficaram felizes, mas alguns preocupados. Preocupados se com isso ia acabar alguma coisa, porque eles têm muito amor pelo que fazem. Ontem (quarta) a gente fez aqui uma reunião de esclarecimento aos pais. Veio muita gente. Todos interessados em saber como seria daqui para a frente. Na verdade, para todos nós, isso significou o resgate de uma honra, uma justiça.
O Diário – Os parceiros internacionais devem estar satifeitos…
John William – Sim. E o Brasil inteiro começa a tomar conhecimento. Tem e-mail de tudo quanto é lugar. Eu descobri que a visibilidade da ONG triplicou…
O Diário – Então, o que efetivamente muda com essa resolução da prefeita?
John William – Primeiro a valorização do músico campista e de um trabalho sério. Isso nos dá um carimbo de honra e, mais do que nunca, a certeza de que estamos juntos. Para os músicos, dá uma sensação de valorização, de respeito a um grupo que trabalha incansavelmente pela música e que tem levado o nome de Campos a vários lugares com um trabalho de qualidade.
O Diário – Como a Orquestrando a Vida pretende cumprir as exigências do convênio?
John William – O edital diz: “orquestra e coro municipal” e não contempla outros grupos. Qualquer coisa que fizermos fora disso estaremos contra a lei. Então, ali vão participar músicos que farão parte da orquestra e do coro. Contempla a ONG? Contempla porque os músicos da orquestra sairão daqui, mas ele é exclusivo para esse determinado fim,  e não pode ser feito para outras coisas como  o projeto Orquestrando a Vida. Temos que separar uma coisa da outra. Vamos ter que ser fiéis. A própria prefeita nos falou: “vocês vão administrar da forma que acharem que deve ser, mas existe um edital que tem que ser cumprido”. Ou seja: já está estabelecido e nós vamos cumprir dessa forma, da melhor maneira possível.
O Diário – E aí? Já começaram os trabalhos? Qual a duração do convênio e quantos componentes terá a orquestra? E o coro?
John William – A duração é de um ano e estamos trabalhando para fazer tudo isso acontecer. Estamos na fase de seleção interna e fazendo reuniões de trabalho porque tudo aconteceu muito rápido. A orquestra terá em torno de 80 componentes. A questão do coro está bem estabelecida: serão entre 20 e 22 componentes. A orquestra será regida pelo Luís Maurício Carneiro. O coro ainda não sabemos. Vai exigir um preparador vocal. É um coro lírico. A orquestra é infanto-juvenil A maior parte tem entre 12 e 15 anos de idade.
O Diário – Vocês foram incansáveis na luta pela manutenção da ONG. O que o senhor acha que pesou nessa reviravolta?
John William – Eu acho que uma corrente de energias positivas e favoráveis é muito importante nessa hora. Também o grito popular, principalmente dos jovens, crianças e familiares. Está sendo muito importante essa unidade. Na reunião, Rosinha foi clara em relação ao seu desejo de que esse projeto saísse de um grupo de Campos. O tempo todo disse que estava muito feliz com tudo isso que aconteceu, dando oportunidade a um projeto pelo qual ela tem o maior respeito e carinho. Então, atribuo primeiro à proteção divina, que foi fundamental, e creio que as pessoas também tiveram um papel fundamental. Sei que estamos aprendendo muito. Pais e crianças estão aprendendo a consciência do exercício da cidadania.
O Diário – Então, pode-se dizer que a vitória ainda não está completa?
John William – A gente teve, sim, uma grande vitória, agradecemos muito e vamos cumprir nosso contrato de trabalho, mas continuamos a nossa luta pela reabertura das portas da ONG. Uma coisa é diferente da outra. A vitória é parcial, mas já deu um sabor maravilhoso.
O Diário – Em algum momento vocês pensaram em desistir?
John William – Nunca. A cada vez que apareciam iniciativas contrárias a nossa missão, mais energia dava. Ficávamos brincando com o que mamãe me dizia “Quanto mais a gente bate, mais teimoso ele fica” (risos). Todas as nossas manifestações foram para reivindicar, nunca para atacar. Nossa grande preocupação é essa: que as nossas crianças não se percam na vida. Trabalhamos  com pessoas com problemas e que estão aí paradas, causando preocupação aos pais. Aqui, a música é sinal de abrigo e luta.

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